Aos 18 anos tirei a carta de condução. Passado um mês, como prenda por ter entrado na universidade, o meu avô ofereceu-me o meu primeiro carro, um
smart. Sinceramente não sei onde estava com a cabeça quando decidi escolher um
smart. Espaço não tinha, conforto nem vê-lo, a segurança era nula... A única vantagem que tinha era o facto de ser pequenino ao ponto de caber onde mais nenhum carro cabia. A minha mãe tinha razão quando afirmava que eu me ia fartar, que passados uns tempos me iria arrepender de não ter optado por um carro mais possante, mais espaçoso,... Mas eu insisti e foi o
smart que veio parar à minha garagem. Como a minha carta era recente optamos por pôr o carro em nome da minha mãe, o seguro ficaria mais barato (porque a minha mãe já tinha um carro segurado em seu nome na companhia) e caso fosse apanhada em algum radar (coisa que veio a acontecer meses mais tarde) a multa viria no nome da minha mãe, o que era óptimo, porque eu não podia ser multada. Só vantagens.
Um dia, depois de uma semana de aulas longe de casa, seguia eu pela IP4 quando sou mandada parar pela Brigada de Trânsito. Encosto, sem fazer o pisca nem nada (nunca tinha sido mandada parar, estava muito à toa), abro o vidro e ponho o meu melhor sorriso na cara. Eu e a autoridade trocamos cumprimentos muito educadamente, pede-me os documentos do carro, eu entrego-lhe uma pasta de plástico e digo-lhe:
Eu: Olhe, vai ter de procurar aí, porque eu não sei quais são os documentos que quer.
O agente da autoridade fica a olhar para mim com cara de gozo e pergunta-me pelo triângulo.
Eu: Eu sei que tenho. Deve estar na mala...
Saio do carro, sem colete e dirijo-me à mala. Abro a mala e digo:
Eu: Olhe, o triângulo deve estar aqui, mas se quiser que lho dê vai ter de me ajudar a tirar a mala que tenho dentro da mala, é que eu não posso com ela.
Ele: Deixe estar menina, eu confio. Mas apesar de ser tão simpática vou ter de a autuar... Conduzia na IP4 com um médio fundido (o direito traseiro), com as condições climatéricas de hoje estava a pôr em risco a sua própria segurança.
Eu: E a coima é de quanto?
Ele: 60 euros, mas como é só um e como se mostrou tão prestável e simpática, vou passá-la no valor de 30 euros.
Eu: Mas espere aí, eu tenho a carta à pouco tempo... Não dá para passar a multa em nome da minha mãe? É que...
Ele: É uma anomalia no veículo, não se preocupe que não implicará em nada com a sua carta.
Eu: Ah bom, então passe no meu nome, é a minha primeira multa!
Estava a chover torrencialmente e a autoridade disse-me que eu podia entrar no carro e esperar que ele terminasse de passar a multa. Entro no carro e ligo à minha mãe toda extasiada a contar a novidade. Ok, eu admito que não sou uma pessoa nada normal, mas estava a achar imensa piada ao facto de estar a ser multada.
A autoridade acaba de preencher a multa, dirige-se à minha viatura e pergunta-me se quero pagar no momento. Eu digo que sim e passo-lhe uma nota de 50 euros.
Ele: Não tem trocado?
Eu: Não!
Ele: Não temos trocos... E agora como vamos fazer?
Eu: Pois, não sei!
Ele pensa durante um bocado até que chama o colega que estava no outro lado da estrada e diz:
Ele: Vou com esta menina até à estação de serviço destrocar o dinheiro da multa. Vou sinalizar a marcha, a menina só tem de me seguir. Peço desculpa pelo incómodo mas não temos trocos, vamos ter que solucionar assim o problema.
Nesta altura eu já estava mais que animada. Lá fui eu atrás do carro da Brigada com toda a gente a olhar para mim...
Chegados à estação de serviço a autoridade veio ter comigo, eu dei-lhe o dinheiro e ele fez o favor de ir destrocar a nota. Veio entregar-me os trocos ao carro, pediu-me mais uma vez desculpa, desejou-me boa viagem e disse-me, para mais uma vez seguir o carro dele, que íamos entrar em contra-mão na IP4 porque eu queria seguir a direcção oposta e ele ia-me deixar no local onde eu tinha parado anteriormente. Porreiro, andar em contra-mão atrás de um carro da Brigada? A coisa não podia melhorar...
Segui o carro até ao local onde tinha sido multada e depois segui viagem sozinha. Como já estava bastante atrasada acelerei um pouco mais do que devia. Bastantes quilómetros mais à frente começo a ouvir a sirene, olho pelo espelho retrovisor e qual não é o meu espanto quando vejo o mesmo carro da Brigada a aproximar-se. Positiva como sou pensei logo: "Isto não deve ser para mim, duas vezes num dia era mau demais!"... Mas quando vejo o carro a aproximar-se e a fazer sinal percebi logo que não tinha escapatória. Era mesmo para mim.
A autoridade aproxima-se e diz:
Ele: Boa tarde, mais uma vez, senhora condutora. Peço desculpa por estar a atrasar ainda mais a sua viagem, mas tinha-me esquecido de lhe entregar os seus documentos. Continuação de uma boa viagem e se for mandada para por uns colegas nossos mais à frente, diga-lhe para me contactarem de forma a poder seguir viagem sem mais demoras.
Devo ter sido a única pessoa até aos dias de hoje, que achou imensa piada à experiência de ser multada e alvo de perseguição.
Muitas pessoas me disseram que podia ter evitado a multa se dissesse que me estava a dirigir a uma oficina para fazer a mudança de luzes, ou se tivesse uma caixa de luzes no carro e as mudasse no local (acham mesmo que eu era capaz? LOL), também já me disseram que não podia ser autuada por isto... Sinceramente não faço ideia.
Há dois anos atrás, troquei de carro, o meu avô abriu os cordões à bolsa e de prenda de final de curso ofereceu-me um Juke (que original oferecer-me um carro de prenda quando alcanço sucesso académico!). Apesar de admitir que comprar um smart não foi das minhas melhores ideias, a verdade é que o primeiro carro é como o primeiro amor, nunca se esquece.